O combate ao tráfico de pessoas na Bahia enfrenta dificuldades para ter o final feliz que se vislumbra para a novela Salve Jorge (da
Rede Globo), que aborda a prática do crime. Se na ficção aparece um
esforço conjunto de pessoas para livrar jovens das mãos dos traficantes,
a realidade traz um baixo índice de denúncias feitas aos órgãos
voltados ao enfrentamento desta atividade criminosa.
"As
investigações das quais participei não representam nem 10% do que ocorre
em Salvador. Enquanto conversamos, um aliciador certamente está
agindo", analisou o procurador da República, Vladimir Aras, especialista
no estudo do crime organizado. Para ele, a
maior parte das vítimas que escapam dos traficantes evita acionar as
autoridades. "As que se percebem como vítimas não denunciam por medo das
ameaças. Já as que têm coragem de denunciar não o fazem por vergonha",
opinou.
Aras coordenou as ações do Ministério Público
Federal (MPF) na Bahia em investigações que desarticularam seis
quadrilhas especializadas no tráfico de pessoas (em Salvador, Feira de
Santana e Buerarema, sul do Estado).
Coordenador do Núcleo de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP), Adriano Figueiredo confirmou
que "não existe uma demanda significativa" de denúncias feitas à
unidade. "É uma relação complexa. Quando deixam de ser exploradas e
conseguem retornar ao Brasil, essas pessoas encontram condições de vida
que as forçam a voltar a viver como traficadas", ilustrou.
Conforme
Figueiredo, o NETP (subordinado à Secretaria da Justiça, Cidadania e
Direitos Humanos) oferece às vítimas atendimento psicológico,
assistência jurídica e reinserção no mercado de trabalho. O NETP fica na
Rua Frei Vicente, Pelourinho.
Projeto - Mestra
em Direito Internacional pela Universidade de Coimbra (Portugal), a
advogada Regina Machado disse acreditar que ainda faltam políticas
públicas direcionadas de forma exclusiva às vítimas de tráfico de
pessoas.
"É preciso captar a confiança da vítima e não
constrangê-la na hora de tomar seu depoimento", advertiu a advogada, que
tem projeto de criar o Núcleo de Atendimento a Vítimas do Tráfico de
Pessoas (inclusive com cartilha de dicas preventivas).
Tal
projeto já foi apresentado à Secretaria de Justiça, em encontro
informal. "Já oferecemos assistência às vítimas, como está contemplado
no projeto da advogada. Algo especializado só acrescenta, mas ainda
estamos analisando este projeto", confirmou Adriano Figueiredo. (ATarde)
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